Viés do Optimismo: Como o Excesso de Confiança Causa Comportamentos de Risco

Bruno Ribeiro
5 min readMar 16, 2021

Com os casos detectados de COVID-19 a abrandar, e a pressão sobre os hospitais a aliviar, volta-se a falar sobre o processo de desconfinamento em Portugal e um pouco por toda a Europa. É importante decidir quando e como se irá desconfinar, mas igualmente relevante é pensar como vamos garantir que não teremos necessidade de um terceiro confinamento?

O processo de vacinação em curso será uma mais-valia nesse sentido, mas como sabemos, não há garantias que até ao final do Verão grande parte da população portuguesa esteja vacinada. Com a reabertura de algumas actividades, é fundamental garantir que, a nível individual, há um cumprimento rigoroso das regras de distanciamento social e de uso de máscara em locais públicos.

A comunicação com o grupo etário entre os 15 e os 30 anos é especialmente crítica. É fundamental perceber como comunicar com estas populações de forma a conseguir que mantenham as normas de segurança activas. E foco-me nestes grupo etário porque se há algo que podemos aprender da segunda vaga de COVID-19 na Europa, é que é aqui que começa a disseminação, como podemos ver no gráfico abaixo partilhado pelo European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), onde se pode perceber que a incidência dos casos nos grupos entre os 16–18 anos e 19–30 anos aumentou significativamente durante os meses de Verão, e a partir daí alargou-se à população com mais idade e onde o vírus tem um impacto mais agressivo.

Um dos motivos que leva a que haja uma redução na adesão a medidas de segurança individual, para além da reactância psicológica, é uma ilusão de invulnerabilidade que muitas pessoas assumem. Esta sensação de invencibilidade, leva a que se assumam mais riscos, se desvalorize o perigo, e se adopte uma postura psicológica de considerar que estamos numa situação de menor risco do que os outros.

Isto ocorre devido ao que chamamos de viés de optimismo, que é a tendência do ser humano em sobrestimar as probabilidades de lhe acontecer algo de positivo no futuro, enquanto desvaloriza a possibilidade de lhe acontecer algo de negativo.

Quando projetamos o futuro, a tendência é para acreditarmos que o mesmo será positivo, que concretizaremos todos os nossos projectos, e que tudo nos correrá bem. Mesmo quando confrontados com dados que demonstram o contrário. É por isso que casais recém-casados indicam que a probabilidade de se divorciarem no futuro é de 0%, quando a taxa de divórcio ronda os 40%. E é também por isso que acreditamos que é possível ganhar o Euromilhões, mas pouco provável termos um acidente de viação por conduzirmos ao telemóvel, apesar da probabilidade ser muito maior no segundo caso.

Este enviesamento optimista é um mecanismo adaptativo que permite às pessoas lidarem com acontecimentos adversos. Mas, em alguns aspectos, como é o caso da saúde, pode levar a comportamentos e atitudes de menor prevenção, na medida em que tendem a considerar a probabilidade pessoal de contraírem uma doença significativamente menor do que o é na realidade.

A desvalorização do risco pessoal, pode levar à não adopção de medidas de prevenção e segurança. O que no caso de uma pandemia resulta numa maior probabilidade de propagação da doença.

Como podemos combater o viés do optimismos de forma a garantirmos que as pessoas mantenham os comportamentos de prevenção e segurança necessários?

Sem surpresa, a apresentação de factos não tem grande impacto na diminuição deste optimismo. Quando confrontados com factos que vão contra ao seu optimismo, por normas as pessoas desvalorizam esses factos precisamente porque não acreditam que é algo que lhes vai acontecer a eles, mas apenas aos outros.

A melhor forma de diminuir os efeitos negativos deste excesso de optimismo, passa por apresentar casos reais e concretos de pessoas que sofreram de COVID-19, sobretudo de casos de pessoas que se assemelham em termos de características e comportamentos ao público-alvo. Casos concretos e reais tendem a ser processados de forma mais emocional e a ter maior impacto na mudança de atitudes.

Uma outra estratégia que deve ser usada é a de focar as acções de prevenção não no impacto que têm sobre a pessoa, mas sim no benefício que trazem na proteção de outras pessoas. Ao invés de comunicarmos apenas que o uso de máscara e a manutenção de distanciamento físicos nos protegem, é importante demonstrar como esses comportamentos nos ajudam a proteger aqueles que nos são mais próximos.

Estudos comprovam a eficácia desta estratégia demonstrando, por exemplo, que enfermeiros tendem a ter um comportamente de higienização das mãos mais frequente quando recordados do mal que podem causar aos doentes se não o fizerem. Igualmente, no Reino Unido, quando as campanhas de prevenção rodoviária passaram a focar-se nos danos causados a outras pessoas, e não apenas ao próprio, as atitudes dos britânicos, sobretudo dos jovens, a respeito a conduzir sob o efeito do álcool mudaram.

Vejamos por exemplo a campanha do SNS e da DGS para apelar a um comportamento mais preventivo e de segurança das pessoas:

É uma boa campanha, com imagens fortes, um bom uso do significado duplo da palavra paciente. Mas mantém o foco nas consequências individuais das pessoas.

Comparemos agora com a campanha, para os mesmos fins, do National Health Service britânico:

Uma campanha mais direta e humanizada, com pacientes reais, e uma responsabilização direta da audiência em assumir as consequências das suas acções na vida dos outros.

Um exemplo de como a campanha nacional poderia ter utilizado este foco na prevenção do impacto nos outros, seria algo similar a isto:

Em suma, é importante que quem comunica perceba que o comportamento das pessoas não é linear e que nem sempre as motivações pessoais e individuais, são as que melhores resultados trazem.

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Bruno Ribeiro

A tentar fazer a ponte entre a Psicologia e a Economia Comportamental e o Marketing e Publicidade.